sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Parada cardíaca

 
Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.
 
(Paulo Leminski)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Pablo Neruda

"Quero apenas cinco coisas
Primeiro é o amor sem fim;
A segunda é ver o outono;
A terceira é o grave inverno;
Em quarto lugar o verão.
A quinta coisa são teus olhos,
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser, sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando."
 
 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A LATA DE LEITE


Dois irmãozinhos maltrapilhos, provenientes da favela, um deles de cinco anos e o outro de dez, iam pedindo um pouco de comida pelas casas da rua que beira o morro. Estavam famintos "vai trabalhar e não amole", ouvia-se detrás da porta; "aqui não há nada moleque...", dizia outro.

As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças. Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes "Vou ver se tenho alguma coisa para vocês, coitadinhos!" E voltou com uma lata de leite.

Que festa! Ambos se sentaram na calçada. O menor disse para o de dez anos "você é mais velho, tome primeiro..." e olhava para ele com seus dentes brancos, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.

Eu, como uma tola, contemplava a cena. Se vocês vissem o mais velho olhando de lado para o pequeno! Leva a lata à boca e, fazendo gesto de beber, aperta fortemente os lábios para que por eles não penetre uma só gota de leite. Depois, estendendo a lata, diz ao irmão "Agora é sua vez. Só um pouco." E o irmão, dando um grande gole exclama "como está gostoso!"

"Agora eu", diz o mais velho. E levando a lata, já meio vazia, à boca, não bebe nada. "Agora você", "Agora eu", "Agora você", "Agora eu"...
E, depois de três, quatro, cinco ou seis goles, o menor, de cabelo encaracolado, barrigudinho, com a camisa de fora, esgota o leite todo… ele sozinho.
Esse "agora você", "agora eu" encheram-me os olhos de lágrimas...

E então, aconteceu algo que me pareceu extraordinário. O mais velho começou a cantar, a sambar, a jogar futebol com a lata de leite. Estava radiante, o estômago vazio, mas o coração trasbordante de alegria. Pulava com a naturalidade de quem não fez nada de extraordinário, ou melhor, com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas extraordinárias sem dar-lhes maior importância.

Daqueles moleques nós podemos aprender a grande lição, "quem dá é mais feliz do que quem recebe." É assim que nós temos de amar. Sacrificando-nos com tal naturalidade, com tal elegância, com tal discrição, que os outros nem sequer possam agradecer-nos o serviço que nós lhe prestamos."



domingo, 26 de janeiro de 2014

Reflexão sobre pensamento positivo

Nosso subconsciente trabalha na materialização de nossas crenças. Ele não tem senso de humor. Faz sempre o que acreditamos. Não falha. Dessa forma, o fracasso não existe. Você foi sempre um sucesso! Sua vida é obra sua. Você é responsável por suas experiências. Mesmo aquelas que parecem não depender de você foram atraídas por sua forma de pensar.
As coisas não vão bem? Só colhe infelicidade? É hora de perceber como você consegue fazer isso. Certamente não escolheu a atitude adequada para obter bons resultados. Mudando essa atitude, tudo se modificará.
A vida deseja que você desenvolva seus potenciais de espírito eterno e aprenda a ser feliz. A felicidade é nosso destino e só o bem é verdadeiro. Para nos ensinar isso, a vida programa nossas experiências de acordo com nossas necessidades. Através do resultado dessas experiências conquistamos a sabedoria.
Na queixa há sempre uma justificativa para continuarmos a ser como somos, mas há também uma auto-imagem negativa. Você pensa que não pode fazer nada, que é incapaz e não merece. Conforma-se em ser pobre, em ficar em segundo plano, em pensar primeiro nos outros (“é feio pensar em você primeiro”). Acha que, para você ter, outros terão que dar e perder. Como se Deus fosse pobre e tão limitado que para dar a uns teria que tirar de outros. Esses pensamentos são altamente depressivos e atraem infelicidade.
Seu subconsciente obedece às mensagens que você lhe envia. Você tem todo o poder de criar seu próprio destino. Se deseja viver melhor, reconheça isso.
Faça uma lista de suas crenças e até das frases que costuma dizer. Se puser atenção e for sincera, logo vai perceber quais as crenças que são responsáveis por sua infelicidade. Não pense mais nelas. Esqueça-as. Quanto mais se preocupar em eliminá-las, mais pensará nelas e as alimentará.
Trate de cultivar o oposto. Faça afirmações positivas sempre usando o presente. Exemplo: “Eu sou feliz”, “Tenho muita sorte”, “Minha saúde está cada dia melhor”, etc. Escreva-as e espalhe-as em sua casa, nos lugares onde você possa vê-las constantemente. Repita-as várias vezes por dia.
Mas não se esqueça de pôr emoção nelas, acreditar realmente no que afirmar. Ignore aquela vozinha que lhe diz que não vai funcionar. Não custa nada experimentar.
Lembre-se de que todos os problemas de sua vida foram criados por você. Você foi, é e sempre será um sucesso. Suas escolhas podem ter dado um resultado diverso do que você esperava, mas você conseguiu materializa-las. Refletem o que você crê, e o que você crê seu subconsciente materializa…
Pense nisso.
(Zíbia Gasparetto)

sábado, 25 de janeiro de 2014

Relatos 2: A dor que não tem nome (Eliane Trindade e Fernanda Cirenza)

Maria Lúcia Pedroso Baliero, 45 anos, assistente social. Mãe de três filhos. Tarsila, a caçula da família, morreu no dia 21 de março de 1995, aos 15 anos, vítima de câncer.
 
Vai fazer oito anos que Tarsila partiu, vítima de um câncer que começou na tíbia. O tempo ajuda a dor a ficar mais branda. Como sou espírita, criei meus filhos sob esse preceito espiritual, acredito na sublimação, tenho como certa a eternidade. Mas a coisa do beijo, do abraço, do carinho não tem religião que sublime. É uma saudade que não sai nunca da gente. Minha filha recebeu todo o tratamento e carinho de que precisava. Além da quimioterapia, foi submetida a duas cirurgias para a retirada do tumor e a um transplante de sua própria medula. Mas a doença evoluiu. A certa altura, os irmãos mais velhos, Teo e Tais, tiveram de fazer um exame para saber se a medula deles era compatível com a dela. Aí recebi duas notícias de uma só vez: não havia mais muita coisa para ser feita por Tarsila, e Tais, minha outra filha, era portadora de lúpus. Nesse momento, tinha uma filha morrendo e outra com um diagnóstico de uma doença grave. Ninguém pode imaginar o que foi isso.
A história da Tarsila começou com dores nas pernas. Como era campeã paulista de ginástica rítmica com bola, fazia balé e sapateava, o médico achava que as dores eram causadas pelos exercícios. Ela tinha 11 anos quando recebemos a notícia da doença, ela soube de tudo desde o início. Nos quatro anos que lutou contra a doença, não esmoreceu um minuto. Nos intervalos da quimioterapia, queria ir para Paúba, onde temos uma casa. Para ela, Paúba não era só aquela praia maravilhosa, eram os amigos, as estrelas cadentes. Não deixou de frequentar os treinos de ginástica. Ia careca, de cadeira de rodas, de muletas, com gesso, com toda a dificuldade que se pode imaginar. Queria ajudar a professora a preparar outras ginastas. Também não largou os estudos e concluiu o ginásio. Foi oradora da turma e emocionou a todos. Ela era muito especial.
Em 1995, a doença evoluiu tanto que a morfina deixou de fazer efeito, Tarsila sentia dores insuportáveis. No final, estava sedada. No dia de sua partida, percebi que a respiração estava mais lenta e entendi que aquele era o momento. Eu a abracei e falei coisas que ela sabia, mas era fundamental reforçar o quanto a amávamos, o quanto ela era importante para nós... O momento era esperado, eu sabia que minha filha tinha uma doença grave, sabia de tudo, mas não há preparação possível para a partida de um filho. Senti uma dor tão profunda, mas tão profunda, que fiquei meio anestesiada, com uma emoção tranquila durante o velório e o enterro.
Superar a dor é complicado. Até hoje não assisto a nenhum vídeo em que Tarsila aparece. Tenho muitas fotos, algumas espalhadas pela casa, mas vídeo não vejo, não dá. A gente vai vivendo um dia depois do outro, com uma dor, uma saudade... Tenho muito o que falar da morte, mas quero pensar nas coisas boas. Deus foi generoso me presenteando com ela durante 15 anos. É duro, triste, mas tento sublimar da forma mais branda possível, até porque tenho certeza que, quanto mais eu falar dela com otimismo, será melhor para todos nós.
Depois da partida de Tarsila, eu tinha de cuidar da Tais. Como não tinha sintomas do lúpus, que pode causar emagrecimento, febre, lesões na pele e até neurológicas, foi poupada de medicação por seis anos, e essa foi a nossa sorte, porque o diagnóstico estava errado. Na verdade, Tais teve uma hepatite autoimune que não foi diagnosticada nem tratada. Por isso, a doença, a hepatite, acabou destruindo o fígado dela. Eu quase perdi outra filha... Descobrimos o erro só no ano passado, quando Tais começou a ter dores abdominais fortes e a inchar. Procuramos outro especialista, que pediu uma biópsia, e logo soubemos que a situação dela era gravíssima.

Tais fez o transplante de fígado às pressas. Recebeu o órgão em 24 horas, porque poderia morrer. Os riscos da operação são muitos, mas não tínhamos escolha. Tive muito medo. Tais está aí, medicada. Já faz dez meses que passou pela cirurgia... O problema é que a operação é delicada, as oito horas seguintes são fundamentais, depois são não sei mais quantos dias e assim por diante. É uma luta diária. Já briguei muito com Deus, mas também fico imaginando o que tenho de aprender com tudo isso. Não posso acreditar que esse ser superior seja injusto, tenho de tirar uma lição. Quero saber o que tenho de aprender até para não passar mais por isso.'
 
(Publicação extraída da revista Marie Claire)
 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Relatos 1: A dor que não tem nome (Eliane Trindade e Fernanda Cirenza)

Christine Marie Nunes Santos, 40 anos, fisioterapeuta, mãe de quatro filhos. Tiago, o mais velho, morreu em 7 de janeiro de 2000, aos 21 anos, em João Pessoa (PB):
 
'Meus filhos estavam de férias em João Pessoa, como acontecia todos os anos. Tiago entrou numa briga, achando que um dos irmãos tinha se envolvido, e foi atingido na traqueia e carótida por um garoto armado com uma faca. Tiago foi levado ao hospital, passou por uma cirurgia complicada e morreu dois dias depois devido a uma complicação pós-cirúrgica. Ele ficou na UTI umas 30 horas. Estava consciente e chegou a falar comigo. Sussurrava, gesticulava, e eu o entendia. Ao me ver angustiada, perguntou se estava bonito bronzeado. Os médicos diziam que, diante da gravidade, ele estava bem. Por causa disso, a notícia da morte foi inexplicável para mim.
Uns dias antes de ser golpeado, Tiago sofreu um sequestro-relâmpago. Depois de escapar dos bandidos, ele me falou: 'Mãe, quando eu estava no porta-malas do carro, pensei que não podia morrer sem ver você'. Quando lembro disso, me sinto abençoada por ter visto meu filho com vida. De certa forma, nós nos despedimos. Quando o vi morto, vivi aquela dor enorme e passei a acreditar que iria me relacionar com ele em outra dimensão. Sei que nossa separação não é definitiva e, de outra forma, não resistiria. Todos os dias, sento ao lado das fotografias dele e digo: 'Bom-dia, meu filho, onde você estiver. Que seu dia seja de muita paz, muita luz'. Não me importo se alguém acha que estou louca.
Como a morte aconteceu em João Pessoa e nós moramos em Brasília, tivemos de voltar para casa. Pegar aquele avião foi horrível, porque eu voltava para a realidade. Olhar a mesa e ver o lugar dele vazio, acordar de noite e ver a cama dele vazia... Sou uma mãe que gosta muito de tocar os filhos, tenho essa coisa de abraçar, pegar no colo. Tem horas que sinto uma vontade enorme de ver aquele sorriso, sentir aquele abraço... É muito difícil suportar tudo isso, e o que me segura é a fé de que meu filho continua.
Logo depois da morte, queria uma explicação para a vida. Em um mês, li 18 livros, de Einstein a obras espíritas. Estudei tendo os meus filhos, amamentei trabalhando e, depois de todos crescidos, minha sensação é de que nadei, nadei e morri na praia. Às vezes me sinto culpada e penso: 'Como não coloquei meu filho nos braços e não deixei que ele morresse?'. Ele só tinha 21 anos. A verdade é que nenhuma mãe tem controle de nada.
O agressor fugiu e mais tarde se apresentou à polícia. Como era primário, não ficou preso. Depois se envolveu em outra confusão e aí sim foi para a cadeia. Na verdade, sei pouco sobre ele, optei por não acompanhar o processo. Não me sinto em condições de lidar com isso. Preciso continuar vivendo com as lembranças boas de Tiago, de pensar nele bom e saudável. Tenho que me encher de amor para tentar suportar a perda.
Desde que Tiago morreu, faço terapia e também participo de um grupo de mães, o Afago, que é ecumênico. Cada um se expressa a sua maneira, mas o que nos une é a certeza de que nossos filhos se foram e continuam em outro lugar. Não tem nada pior para uma mãe do que achar que acabou ali. A gente fala da morte, mas também fala da vida, dos sonhos.
Minha dor mexe com toda a família. Quero que meus outros filhos sejam felizes. Preciso fazer ceia de Natal, as festas em família vão ter de acontecer, mesmo eu estando cortada por dentro. Olho para cada rosto de meus filhos e sinto um turbilhão de emoções: eles perderam um irmão querido. Tenho de fazer tudo para amenizar a tristeza. Quanto maior a felicidade de um, maior o buraco, o vazio. Tive alegrias enormes com meus filhos, mas sempre vem aquela coisa rasgando por dentro: por que Tiago não está aqui? O tempo todo a gente tenta recolocá-lo na nossa vida.
Na formatura do Daniel, ele decidiu que iríamos a uma missa. Foi um jeito de incluir Tiago na comemoração. O filho que vai, que morreu, vira um bebê de novo, a gente fica tentando protegê-lo. Outro dia, descobri que o antônimo de morrer é nascer. Não existe significado oposto para viver justamente por causa da continuidade. E até hoje, quando me perguntam quantos filhos tenho, digo quatro. Não dá para apagar os 21 anos que vivi com Tiago.'
 
(Publicação extraída da Revista Marie Claire)
 
 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Relatos: A dor que não tem nome (Eliane Trindade e Fernanda Cirenza)

Tiago, 21 anos, Camile, 18, Tarsila, 15, não tiveram chance de viver mais. Para as mães que ficam, é duro se confrontar com a realidade de que nem sempre o curso da história segue a ordem natural das coisas. Só a violência no Brasil provocou, em 2000, a morte prematura de mais de 17 mil jovens entre 15 e 24 anos, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. 'Perder um filho é como perder um pedaço de si', resume Claudia Ferrão, 30, psicóloga e psicanalista, do Day Care Center, entidade paulistana que atende pacientes de câncer e familiares. Os sintomas do luto são choque, depressão, revolta, impotência, sensação de fracasso, negação, raiva, culpa, angústia. 'É um processo de mudança em que a família vai ter de aprender a viver sem aquele que partiu', diz Maria Helena Pereira Franco, coordenadora do Laboratório do Luto, o Lelu, serviço de assistência psicológica mantido pela PUC de São Paulo. 'Quem vive a perda não volta a ser a pessoa que era antes, porque a morte altera valores e hábitos.' Apesar de o luto não ter tempo certo para terminar, há maneiras de superá-lo. 'É importante falar da morte, mesmo ela deixando uma marca profunda na vida de quem fica', diz Claudia. O enlutado, afirma Maria Helena, tem de usufruir de todo o apoio que puder. 'Deve contar com a família, com os amigos, com a religião, com qualquer tipo de apoio que ajude a pessoa a construir o significado da morte.' Ela ressalta que voltar à rotina também contribui na elaboração da perda. 'É fundamental entender que a vida continua.' A psicóloga Gláucia Rezende, que perdeu a filha Camile há mais de quatro anos, descobriu que não existe, em nenhum idioma, uma palavra para definir a morte de um filho. 'É uma dor que não tem nome, algo que não se espera.' Ela, Christine, mãe de Tiago, e Maria Lúcia, mãe de Tarsila, contam como enfrentam a vida sem seus meninos.

Gláucia Rezende Tavares, 47 anos, psicóloga e professora universitária. Mãe de duas filhas. Camile morreu aos 18 anos, em 21 de abril de 1998, em Belo Horizonte (MG)
'Minha filha morreu num acidente de carro. Nem pôde ser socorrida. Perder um filho subverte uma ordem cronológica e, por muito tempo, perguntei: 'Por que ela e não eu?'. Camile tinha ido a um churrasco numa fazenda perto de Belo Horizonte. Pegou carona no carro de um amigo, que levou outras duas meninas. Na volta, ele não conseguiu fazer uma curva. Dos quatro passageiros, só ela morreu. Não fui ao local do acidente, não fazia sentido. Esperei em casa a remoção do corpo até o IML (Instituto Médico Legal).
Meu marido é médico e pôde entrar no IML sem impedimentos para fazer o reconhecimento. Eu tive de brigar para acompanhá-lo, precisava viver aquele momento por mais duro que fosse. Precisava enfrentar a situação, ver o que a vida me oferecia. Não é a minha melhor recordação, mas vê-la morta foi a única chance de entender que ela estava realmente morta.
Foi um choque olhar seu corpo, que estava deformado, sujo de barro. Camile foi jogada para fora do carro e caiu num rio fétido, cheio de esgoto. Lembro que disse para o meu marido: 'Eduardo, essa é a nossa filha. Olha em que estado ficou a nossa criança'. Não pude tocá-la, o corpo estava infectado. Senti uma dor física, a garganta seca, um aperto em todo o corpo. É muito difícil lidar com essa realidade.
Depois de identificar o corpo, quis escolher a urna e separar a roupa que ela vestiu. Tomar essas providências foram importantes para eu não me iludir. Não quis correr o risco de não acreditar no que estava vivendo. Não quis ser poupada de nada, mesmo vendo ali a interrupção de muitos sonhos. Camile era jovem, tinha a vida pela frente.
Por uns três meses, vivi digerindo a morte, tentando entender a razão da tragédia, a interrupção da vida dessa maneira. A presença dos amigos e dos familiares me ajudou a seguir em frente. O fato de meu marido e eu não nos culparmos um ao outro pela morte também contribuiu para a elaboração do luto. Era um momento novo para todos nós. A companhia das pessoas, as palavras, o carinho... Conviver com crianças, com os filhos de amigos e familiares, também nos ajudou. Foi uma maneira de introduzir vida nas nossas vidas. A sobrinha-neta do Eduardo, que tinha uns 2 anos, foi um anjo para mim. Um dia, ela separou uma sacolinha com seus brinquedos mais preciosos e me deu. Aquilo me tocou profundamente, foi um gesto lindo, nunca vou esquecer.
Passados uns seis meses, fui fazer um trabalho com argila no Salão do Encontro, uma casa em Betim (MG), que organiza oficinas para pessoas carentes. Às vezes abrem as portas para gente como eu. Escolhi trabalhar com argila, porque era uma maneira metafórica de tocar o corpo que não pude abraçar. Representei essa vivência e me senti bem. Vivi uma semana com pessoas simples, sem erudição, mas com muita sabedoria de vida. Me senti acolhida, adquiri confiança de que a vida vale a pena.
Essa vivência e esse tempo serviram para eu compreender que tenho outras tarefas a cumprir. Uma das minhas providências foi montar um altar para meditação no quarto de Camile. É o nosso espaço, o nosso tempo com ela. Depois, Eduardo e eu inauguramos, em outubro de 1998, a API, Associação de Perdas Irreparáveis. É um grupo de pessoas que também estão vivendo perdas. De certa forma, fomos atrás da nossa turma. Lá, falamos de nossas perdas, de nossa dor, de nossos filhos que se foram, porque o passado não pode e não deve ser aniquilado.
Nosso grupo, além de estar se mobilizando em torno da prevenção de acidentes de trânsito, concluiu também o livro 'Do luto à luta' (Ed. Casa de Minas), lançado no ano passado. Nele, há o meu relato e também o de outras famílias. É gratificante ver que outras pessoas estão se fortalecendo com o nosso trabalho. Há uns anos, durante uma campanha nossa, resgatei o contato com o rapaz que dirigia o carro em que Camile estava. Soube que já tinha cometido quatro acidentes de trânsito, o de Camile foi o primeiro com morte. Aí pensei que teria participação se ele cometesse o quinto. Não abrimos processo contra ele, seria um desgaste a mais e não traria nossa filha de volta. Mas valeria a pena se ele tomasse consciência de que precisa ser mais cuidadoso ao dirigir um carro. No fim, ele aceitou se engajar em nossas campanhas. Percebi, então, que não era mais hora de culpá-lo.
A morte de Camile mudou duas coisas em mim. A primeira é que hoje penso que morrer não deve ser tão abominável, apesar de não ter nenhuma tranqüilidade para afirmar que um dia ainda vou encontrá-la. Ainda assim, a morte me parece menos terrível. Por outro lado, acho que tenho o compromisso de conduzir minha vida da melhor forma possível. Ivana, minha filha mais velha, que está com 24 anos, continua recebendo nossas orientações e recomendações de sempre. A primeira vez que ela nos disse que iria para um churrasco com amigos foi um desespero imenso. Era como rever um filme. Mas não podíamos impedi-la. Nossa função como pais é dar condições para que cada um de nossos filhos siga o seu próprio caminho.'
 
(Publicação da revista Marie Claire)
 
 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Que...


Que eu saiba puxar lá do fundo do baú 
um jeito de sorrir para os nãos da vida. 

Que as perdas sejam medidas em milímetros e 
que todo ganho não possa ser medido por fita métrica, 
nem contado em reais. 

Que as relações criadas sejam honestamente mantidas e 
seladas com abraços longos. 

Que eu possa também abrir espaço pra cultivar a todo instante as sementes do bem e da felicidade de quem não importa quem seja, 
ou do mal que tenha feito pra mim. 

Que a vida me ensine a amar cada vez mais de um jeito mais leve.

Que o respeito comigo mesmo seja sempre obedecido com a paz de quem esta se encontrando e se conhecendo com um coração maior. 

Um encontro com a paz e o desejo de viver.

(Caio Abreu)

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

EVITE ESSES PENSAMENTOS PARA SER UMA PESSOA FORTE MENTALMENTE:

Perder tempo sentindo pena de si mesma:

Você não vê pessoas mentalmente fortes sentindo pena de si mesmas ou suas circunstâncias. Elas aprenderam a assumir a responsabilidade por suas ações e resultados, e têm uma compreensão inerente de que muitas vezes a vida não é justa. São capazes de emergir de uma situação difícil com consciência e gratidão pelas lições aprendidas. Quando uma ocasião acaba mal para elas, pessoas fortes simplesmente seguem em frente.



Ser controladas ou subjugadas:
Pessoas mentalmente fortes evitam dar aos outros o poder de fazê-los sentir-se inferiores ou ruins. Elas entendem que estão no controle de suas ações e emoções. Elas sabem que a sua força está na sua capacidade de reagir de maneira adequada.



Fugir de mudanças:
Pessoas mentalmente fortes aceitam e abraçam a mudança. Seu maior “medo”, não é do desconhecido, mas de tornarem-se complacentes e estagnadas. Um ambiente de mudança e incerteza pode energizar uma pessoa mentalmente forte e estimular o seu melhor lado.



Gastar energia em coisas que não podem controlar:
Pessoas mentalmente fortes não reclamam do tráfego, da bagagem perdida e das outras pessoas, reconhecem que todos esses fatores estão, fora do seu controle. Em uma situação ruim, reconhecem que a única coisa que sempre podem controlar é a sua própria resposta e atitude.



Preocupar-se em agradar os outros:
É impossível agradar a todos. Pior ainda é quem se esforça para desagradar outros como forma de reforçar uma imagem de força. Nenhuma dessas posições é boa. Uma pessoa mentalmente forte se esforça para ser gentil e justa e para agradar aos outros quando necessário, mas não tem medo de dar sua opinião ou apoiar o que acha certo. São capazes de suportar a possibilidade de que alguém vai ficar chateado com elas, e passam por essa situação, com graça e elegância.



Ter medo de assumir riscos calculados:
Uma pessoa mentalmente forte está disposta a assumir riscos calculados. Isso é uma coisa completamente diferente do que pular de cabeça em situações obviamente tolas. Mas com a força mental, o indivíduo pode pesar os riscos e benefícios completamente, e avaliar plenamente as potenciais desvantagens e até mesmo os piores cenários antes de tomar uma atitude.



Debruçar sobre o passado:
Há força em reconhecer o passado e, as coisas aprendidas com as experiências passadas, mas uma pessoa mentalmente forte é capaz de evitar se afundar em decepções antigas ou fantasias dos “dias de glória” de outrora. Elas investem a maior parte de sua energia na criação de um presente e futuro melhores.



Cometer os mesmos erros repetidamente:
Não adianta realizarmos as mesmas ações repetidas vezes esperando um resultado diferente e melhor do que o que já recebemos. Uma pessoa mentalmente forte assume total responsabilidade por seu comportamento passado e está disposta a aprender com os erros. Pesquisas sugerem que a capacidade de ser autorreflexivo de forma precisa e produtiva é uma das maiores características de executivos e empresários bem-sucedidos.



Ressentir o sucesso dos outros:
É preciso ter força de caráter para sentir alegria pelo sucesso de outras pessoas. Pessoas mentalmente fortes têm essa capacidade. Elas não ficam ressentidas quando outros alcançam sucesso. Estão dispostos a trabalhar duro por suas próprias chances de sucesso, sem depender de atalhos.



Desistir depois de falhar:
Cada fracasso é uma oportunidade para melhorar. Mesmo os maiores empresários estão dispostos a admitir que seus esforços iniciais trouxeram muitas falhas. Pessoas mentalmente fortes estão dispostas a falhar de novo e de novo, desde que cada “fracasso” os traga mais perto de seus objetivos finais.



Ter medo de passar tempo sozinhas:
Pessoas mentalmente fortes apreciam e até mesmo valorizam o tempo que passam sozinhas. Usam esse tempo de inatividade para refletir, planejar e ser produtivas. Não dependem de outros para reforçar a sua felicidade e humor. Elas podem ser felizes com os outros, bem como sozinhas.



Sentir que o mundo lhes deve algo:
Na economia atual, executivos e funcionários de todos os níveis estão ganhando a percepção de que o mundo não lhes deve um salário, um pacote de benefícios e uma vida confortável, independentemente da sua preparação e escolaridade. Pessoas mentalmente fortes entram no mercado preparadas para trabalhar e ter sucesso de acordo com seu mérito, ao invés de já chegar com uma lista de coisas que deveriam receber de mão beijada.



Esperar resultados imediatos:
Quer se trate de um treino, um regime nutricional ou de começar um negócio, as pessoas mentalmente fortes entram nas situações pensando a longo prazo. Sabem que não devem esperar resultados imediatos. Aplicam sua energia e tempo em doses e celebram cada etapa e aumento de sucesso no caminho. Elas têm “poder de permanência” e entendem que as mudanças genuínas levam tempo.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Tempo… tempo… tempo!

Com o tempo eu percebi que a cereja do bolo da minha vida 
não foi composta de grandes eventos ou celebrações. 
Mas foi no tecido invisível dos minutos discretos que ninguém reparava. 
Eu sempre soube que aqueles pequenos gestos de gentileza 
é que realmente fazem a diferença. 
Acordar um pouco mais cedo para dar a mão para uma pessoa. 
Levantar da cama antes e pegar o copo d’água. 
Consolar uma lágrima que não foi anunciada. 
Pequenas coisas pelas quais você não vai ganhar nenhum prêmio 
ou recompensa e ainda assim devem ser feitas.


domingo, 19 de janeiro de 2014

A Dor da Perda

Morte. A palavra, por si só, já carrega um peso. É a única certeza que temos na vida, a de que todos morreremos um dia. Mas é difícil se preparar para perder alguém. Algumas almas elevadas conseguem lidar bem com as perdas, mas acredito que a grande maioria das pessoas não está pronta para ver arrancado de sua vida alguém que ama. A gente sente uma saudade diferente. É uma saudade amarrada pela certeza de que nunca vai passar. 

É uma saudade que vai ser eterna. A gente apenas se acostuma a conviver com a ausência, mas não esquecemos, não deixamos de sentir falta, as memórias permanecem, o peito aperta em cada lembrança, e só o tempo mesmo para acalmar o coração…

A compreensão da morte vai depender da crença religiosa de cada um. Cada um interpreta o ato de morrer de uma forma diferente. Para alguns, voltaremos em uma nova encarnação; para outros, ali acaba a vida. Teorias não faltam para tentar explicar a morte. Mas o fato é que é difícil perder alguém. Para mim, pelo menos. Um vazio parece invadir o peito, a sensação de que você não está vivendo aquilo, uma vontade de que seja tudo um sonho, um desespero que não se consegue explicar. O descontrole inicial passa, e você cai na real: a pessoa já não está em sua vida, não daquele jeito a que você estava acostumada.
Aquela rotina que vocês cumpriam já não existe. Você sempre espera a pessoa chegar naquela hora de costume, mas ninguém bate à porta. No horário do telefonema, ele simplesmente não toca. Ouvir a voz dando bom-dia, ouvir a voz falando qualquer coisa. As fotos trazem lágrimas, você pensa que podia ter feito tanta coisa mais, pensa que podia ter falado tanto mais, pensa que podia ter feito algo diferente, ainda que não tenha feito nada de errado. Enfrentar a morte é um processo que exige tempo para que consigamos lidar melhor com a situação, com a ausência em si. Eu perdi uma pessoa muito querida e jovem, nunca havia pensado no quanto dói perder alguém.
Mas a vida segue seu rumo, impiedosa. Os dias continuam passando a cada 24h e o resto de sua vida caminha a passos largos, ainda que você precise dar um tempo de tudo. Só que hoje, não temos tempo nem para o luto. Não que ninguém deva se entregar à dor e lá ficar. Não é isso. A questão é que é impossível exigir que funcionemos como se nada tivesse acontecido. É impossível desvincular o emocional das nossas rotinas diárias. Mas a nossa sociedade apressada não quer saber disso. Não temos mais tempo para chorar. Ou então choraremos a caminho de algum lugar, ou enquanto executamos alguma atividade.
A fase de luto não é fácil. Dói, machuca, nossas lembranças se viram contra nós, porque trazem à tona as imagens que gostaríamos de esquecer. O mundo não para, os segundos correm, o tempo passa. Sinto falta de termos mais tempo pra gente. Sinto falta de termos tempo para ficar em casa vendo sessão da tarde e comendo pipoca. Porque um dia nós é que vamos morrer, e a perda me fez pensar no quanto é importante se preocupar com o que você anda fazendo da sua vida. Eu queria poder ter mais tempo para chorar.
As lágrimas ainda caem, um dia seremos cada um de nós, deixando esse mundo. Enquanto eu estiver nele, escolhi que vou fazer o melhor pra ser feliz e viver. Toda perda nos faz refletir. Eu quero aproveitar cada momento que eu posso ter ao lado das pessoas que amo. Quero aproveitar cada segundo ao lado delas. Chorarei pela perda de cada um que amo, mas farei brilhar no rosto um riso, por ter podido compartilhar tudo o que foi possível enquanto estavam ao meu lado.

Livros que podem te ajudar a superar o momento:
. Terapia do luto (J. William Worden)
. Do luto à luta (Glaucia Rezende Tavares) 
 . Consolo para quem está de luto (Renold Blank)

sábado, 18 de janeiro de 2014

13 ensinamentos básico da Cabala!

Os 13 princípios básicos da Kabbalah são:
1. Não acredite em nenhuma palavra que você ler.  Teste os ensinamentos aprendidos.
2. Existem duas realidades básicas: Nosso Mundo de Escuridão (1%) e a Realidade da Luz (99%)!
3. Tudo o que um ser humano deseja verdadeiramente da vida é Luz espiritual!
4. O propósito da vida é a transformação espiritual, passando  de um ser reativo para proativo.
5. No instante da nossa transformação, fazemos contato com a realidade dos 99%.
6. Nunca – mas nunca mesmo – coloque a culpa em outras pessoas ou em eventos externos.
7. Resistir aos nossos impulsos reativos cria luz duradoura.
8. O comportamento reativo cria intensas faíscas de Luz, mas eventualmente deixa Escuridão em seu rastro.
9. Obstáculos são oportunidades de se conectar com a Luz.
10. Quanto maior o obstáculo, maior o potencial de Luz.
11. Quando os desafios parecerem esmagadores, injete certeza.  A Luz está sempre presente!
12. Mudança interna verdadeira é criada através do poder de DNA das letras hebraicas.
13. Todas as características negativas que você identifica nos outros são apenas um reflexo de suas próprias características negativas.  Só ao consertá-las em si mesmo, você poderá mudar os outros.

E finalmente, ACIMA DE TUDO:
Ame o seu próximo como a si mesmo.  Todo o resto é um mero comentário.
Agora vá e aprenda.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

PROGRAMAÇÃO CARTAS CONSOLADORAS ALAOR B JR

 
 
 
 

Pai...


Que Tua misericórdia nos transforme em meio às batalhas da vida.
Que ainda que acordemos tímidos, 
vençamos cada dia como guerreiros honrados, 
que buscam em oração a Tua força, e se erguem cheios de fervor e garra. 
Que nenhum passo seja vacilante, e que não olhemos para trás…
Nossos olhos firmem-se à frente, rumo às novidades de Deus para nós...
Novas de fé: de quem acredita, ainda que se saiba fraco.
Novas de coragem: de quem vence, embora seja dura a batalha.
Novas de sabedoria: de quem, em espírito ajoelhado, 
se oferece nas Mãos do Criador, e se deixa moldar…
Feliz!


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Silêncio

Assim como do fundo da música 
brota uma nota 
que enquanto vibra cresce e se adelgaça 
até que noutra música emudece, 
brota do fundo do silêncio 
outro silêncio, aguda torre, espada, 
e sobe e cresce e nos suspende 
e enquanto sobe caem 
recordações, esperanças, 
as pequenas mentiras e as grandes, 
e queremos gritar e na garganta 
o grito se desvanece: 
desembocamos no silêncio 
onde os silêncios emudecem.





                 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dalai Lama

Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. 
Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, 
portanto hoje é o dia certo para amar, 
acreditar, 
fazer e principalmente viver.:


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Pessoas Grandes ou Grandes Pessoas:

Existem grandes desafios, por que existem grandes pessoas para vencê-los. 
A grandeza de tais pessoas, não está nos títulos que ostentam,
 nem na posição que ocupam. 
Está em seu interior, em sua capacidade de construir soluções e 
elaborar respostas de forma destemida, mas serena e equilibrada, 
como é característico de quem não se permite seduzir pela ilusão do poder, mas segue cultivando a simplicidade de quem busca sinceramente 
fazer a sua parte na construção de algo melhor, 
não apenas para si mas para tantos quantos queiram somar esforços, multiplicar iniciativas para dividir benefícios para todos.
As dificuldades, as adversidades… 
Jamais serão barreiras intransponíveis, nem pedras inamovíveis; 
são convites à determinação, superação e transcendência,
 como faz o sol todos os dias contextualizando e socializando a sua luz, implementando a alvorada que silencia as sombras da noite.
As grandes pessoas, sabem falar, mas sobretudo cultivam o hábito de ouvir; não costumam impor, mas propor, preferem o diálogo à discussão, 
cultuam a calma ao invés do destempero, 
e são grandes porque não estão preocupadas em ser grandes, 
em mostrar nada a ninguém, 
mas em cumprir a parte que lhes cabe na sublime engenharia da vida, 
na doce harmonia da sinfonia do viver.