Pediram-me
que escrevesse algo em prol do combate ao suicídio. No entanto, segundo a
lei da atração não é fazendo oposição à guerra que criamos a paz. Sendo
assim, ao invés de falar diretamente sobre suicídio eu contarei uma história
real de superação de uma família através do Amor pela Vida.
E, para
contar essa história é necessário falar sobre meu eterno filho Netinho. Eu
gostaria de falar sobre meu filhote de forma que vocês conseguissem sentir toda
a alegria, humanidade e carisma dele, mas nem no meu estado de maior plenitude
conseguiria tal feito. Netinho sempre foi uma pessoa extremamente cuidadosa com
as pessoas e palavras, e sempre muito sereno nos ensinava a paciência. E quando
convivemos com almas tão sensíveis e optamos por aprender com os seus exemplos,
a nossa transformação é questão de tempo. O fato é que mesmo com toda a serenidade
e amor, Netinho exerceu o seu livre arbítrio e tirou a própria vida, como
num "Acidente da Razão". Não foi possível naquele momento
diminuir a nossa dor, pois a dor da saudade, essa nunca será amenizada, pois
quem passou por isso sabe que 04, 05 10 anos, parecem 04, 05 ou 10 dias - nada
pode substituir a falta de um filho que não mais podemos "abraçar
fisicamente". No coração de mãe, o filho fica eternizado.
Não podemos compreender o que passou pela cabeça do nosso
menino. O fato de Netinho ter perdido a fé no mundo de tal modo que decidiu se
retirar dele repentinamente, cria dúvidas que talvez nunca possamos responder.
Estou tentando não pensar nas condições do passado (ex: o que teria acontecido
se), mas sim no caminho que temos a frente e as possibilidades que nos restam.
A primeira e mais difícil foi aceitar a opção dele, e respeitá-la.
Contraditoriamente, apesar de nós familiares próximos termos reagido de forma
mais equilibrada possível, foi muito triste sermos alvo de alguns julgamentos
“abafados” ou às escondidas. Algum tempo depois tomamos conhecimento através de
parentes e amigos, das palavras irreais que lançaram nos jornais e internet,
palavras frias e despreocupadas com o sofrimento de uma mãe e sua família;
palavras “criadas” por pessoas que desconheciam um caminho chamado “amor ao
próximo”. Muitas pessoas estiveram no velório envolvidos pela curiosidade
desumana e criaram os motivos, e até mesmo projetos de vida de um jovem que
não conheceram, quando apenas poderiam ter elevado o pensamento ao Alto pedindo
forças e coragem para àqueles que ali sofriam. Às vezes é decepcionante a
falta de compaixão das pessoas. Eu apenas ficava a pensar que mesmo com tudo
que acontece neste mundo, as pessoas não admitem ainda que o ser humano
desconhece seus próprios limites. E é exatamente por isso que não temos o
direito, nem devemos julgar nada nem ninguém, porque nenhuma história de vida
se parece com outra.
Todos sentimos medo em algum instante das nossas vidas.
Nosso amado Jesus, o espírito mais puro e iluminado que esteve neste mundo
sentiu medo, quando sobre a cruz, Ele dirige esta prece ao seu Pai: -“Meu Deus,
Meus Deus, por que me abandonaste? ”(Mt 27, 46; e Salmo 21, 2). Mas os laços
de amor são puros e nos ajudam a combater o medo. São os nossos laços de amor
eterno que unem pensamentos e nos faz sentir saudade das risadas do nosso
menino Netinho, da sua voz, da sua doçura que iluminava os lugares por onde
passava, como tochas que iluminam a escuridão, e até a saudade das coisas que
viveríamos juntos nesta vida. Nosso Netinho, mesmo na tragédia, despertou
nossa alma adormecida. Estamos mais acordados, menos iludidos, e essa é a
beleza da vida! A beleza da evolução, que nos impulsiona os passos para a
amplitude.
Nosso Netinho estará em nós em cada afago que dermos em
uma criança, em cada palavra de esperança que dermos aos nossos velhinhos, em
cada verdurinha que cortarmos para a sopa de amor que servirmos. Como nosso
Irmão Maior Jesus nos ensinou, o homem faminto caído na rua é meu irmão. Eu estou
nele e ele está em mim. A fome dele se cura com a minha solidariedade e,
automaticamente, a minha dor vai embora. A criança abandonada é minha irmã. Eu
estou nela e ela está em mim. Ela tem fome de afeto, enquanto eu padeço de
frigidez espiritual, então quando lhe dou carinho, curo as minhas feridas da
alma. O idoso esquecido no abrigo é também meu irmão. Eu estou nele e ele está
em mim. Quando lhe faço companhia, curo o meu sentimento e esqueço a minha
tristeza.
Hoje é claro que para nós, a nossa jornada (minha e dos
meus filhos), na Terra, é curarmos uns aos outros. O nosso egoísmo nos deixa
isolados na enfermaria dos nossos sofrimentos. Só o Amor nos coloca no mesmo
quarto, na mesma pele e no mesmo pranto, sentindo o que o outro sente. Ser
indiferente perante a dor do outro nos levará a experimentarmos a mesma dor que
o egoísmo nos insensibilizou o coração. O sofrimento é um processo compulsório
de sensibilização amorosa do nosso ser. O projeto é nos tornarmos pessoas cada
dia mais amorosas, pois quando amarmos realmente, seremos as pessoas mais
felizes do mundo.
Enfim, entre nós, vivem agora, juntas, a névoa da saudade e
a luz da esperança. O afeto do nosso Netinho é sempre nosso, e a nossa ternura
é sempre sua. Viveremos sempre o nosso amor eterno pois a morte não é o fim,
mas apenas breve intervalo. A vida prossegue, tudo prossegue. Jamais
questionamos o porquê, mas sim para que tudo isso aconteceu. E ao
refletirmos sobre a nossa trajetória, as nossas escolhas mais positivas de hoje
só demonstram o acerto em continuar buscando o nosso crescimento espiritual,
aceitando nossas provas, por mais dolorosas, entendendo que nossas dores e
dificuldades são verdadeiros aprendizados. O mais sagrado remédio para
cuidarmos do nosso Netinho, em qualquer dimensão que esteja, é buscar a nossa
paz. A nossa resignação e fé transformando nossa saudade em preces de
esperança e Amor por todos. Se chorarmos, serão lágrimas de esperança por
entendermos que nos reencontraremos um dia, e a nossa saudade sempre se fará
oração, porque nunca estaremos distantes, simplesmente porque quem ama vive no
ser amado. Portanto, o nosso coração estará com o nosso menino, para sempre.
Isso é Viver o Amor pela Vida Eterna.
Agradecendo pela paciência de todos em ler o depoimento
de uma família sobre o "Amarelo do mês de Setembro".
Cris Lantyer e filhos (Luizinho e Lay)