Quem de nós já não viveu uma situação de perda na vida? Com certeza todos
já passamos por situações assim.
Pode ter sido a perda de um ente querido por
falecimento,
por viagem, por separação, por ausência da consciência,
por uma
desavença, dentre tantos outros motivos. Este é um dos tipos de perda. Existem
outros, tais como: perda da saúde,
perda do emprego, perda do funcionamento de
algum órgão do corpo, perda de um animal de estimação, perda da liberdade, perda
de um objeto de estimação, perda da identidade,
perda da fé, dentre tantos
outros.
Perder faz parte do ciclo normal da vida.
Só perde quem está
vivo!
São tantas as perdas que enfrentamos ao longo de nossa existência que às
vezes nos sentimos tristes ou mesmo deprimidos e
nem nos damos conta de que
perdemos algo ou alguém.
A
primeira perda que o ser humano sofre é a perda daquele lugar aconchegante e
protetor que é o útero materno. Mas como sobreviver se não abandonarmos o útero
de nossa mãe? Para que a vida possa ter continuidade é necessário que o cordão
umbilical seja cortado.
Isto nos leva a uma reflexão muito importante: só podemos viver,
progredir, conquistar o mundo na medida em que abandonamos determinados lugares,
determinadas situações,
determinadas pessoas, determinados princípios e
conceitos.
A
liberdade é algo que conquistamos à custa de enfrentamentos das situações novas
e abandono de situações que nos incomodam.
Não podemos estar em dois lugares ao
mesmo tempo.
Para estar em um é preciso abandonar o outro.
Ao longo de nossa vida vamos perdendo uma série de coisas para podermos
conquistar outras. Alguns exemplos: perda do seio materno em troca da mamadeira
e desta para nossa autonomia em nos alimentar. Perda do colinho gostoso para
podermos andar sozinhos e
chegar onde quisermos, independentemente.
Para cada perda, há sempre um ganho!
Na vida, nada é eterno! Tudo é passageiro, exceto nossa alma. Nos
apegamos à existência material com unhas e dentes, acumulamos bens e pessoas.
Não gostamos quando temos que nos separar delas. É doloroso, triste, Contudo, um
dia, vamos nos separar! É inevitável! Este é um assunto que a maioria das
pessoas não gosta, mesmo aquelas que dizem que "a única certeza que a gente tem
da vida é a morte".
Às vezes nos incomodamos com coisas aparentemente fúteis, mas que naquele
momento nos são fundamentais. O ser humano briga, ofende e até mata pelo apego
que tem, pelo orgulho, pelo excesso de vínculo material, pela sede de poder.
O
apego é uma característica normal do ser humano.
No desenvolvimento de nossa
vida tentamos nos libertar,
mesmo que com dificuldades,
daqueles apegos que nos
fazem sofrer.
É
tão bom querer bem e ser querido, amar e ser amado!
O
que fazer com o apego? Me apego e corro o risco de sofrer quando houver uma
separação? Não me apego para não sofrer? O que fazer?
O
Budismo prega o não-apego às coisas e às pessoas mas sim à essência, ao bem.
Contudo, é da natureza humana nos apegarmos. Claro que tudo em excesso não é
bom. Radicalismos são sempre prejudiciais. Então concluimos que querer bem,
amar, ser amado, nos apegarmos, enfim, é uma coisa boa, desde que dentro de
certos limites.
E
no caso de uma perda, de uma separação, o que ocorre?
Há uma série de reações que são normais diante de qualquer perda que
sofremos.
A este conjunto de reações podemos chamar processo de enlutamento:
1) Choque: é o abalo, o desespero e atordoamento, entorpecimento,
confusão que nos acomete ao receber uma notícia de perda.
Daí podemos reagir com
apatia ou com agitação.
2) Negação: é a descrença na notícia ou no fato. A pessoa não acredita no
que aconteceu. Trata-se, aqui, de uma defesa psicológica
para fortalecimento da
pessoa para ela poder dar continuidade.
3) Ambivalência: é a dúvida que a pessoa fica entre a aceitação e
a não
aceitação da notícia ou do fato.
4) Revolta: aqui a pessoa já acreditou na notícia ou no fato e
fica
revoltada com a situação, com as pessoas e até mesmo com Deus.
5) Barganha: é uma tentativa de conseguir de volta aquilo que foi
perdido. Geralmente esta reação é dirigida a Deus.
6) Depressão: é uma profunda tristeza, que varia de acordo com o tipo e
intensidade de apego que a gente tem com a pessoa ou situação de
perda.
7) Aceitação e Adaptação: é quando a pessoa percebe que não tem mais
jeito, que ocorreu mesmo a perda e a vida precisa continuar.
De uma forma ou de outra, todos nós passamos por todas estas fases quando
perdemos algo ou alguém. Se a pessoa não se permitir passar por estas fases, ela
ficará guardada dentro de nossa mente e
um dia vai se manifestar de um jeito
ruim
(através de uma doença, por exemplo).
É
muito importante que entendamos e aceitemos que há tempo de sorrir e há tempo de
chorar,
assim como há tempo de nascer e há tempo de morrer.
O
luto pelas perdas que sofremos na vida precisa ser vivido de acordo com as
crenças e valores culturais, religiosos e pessoais de cada um. Negar a dor de
uma perda é como negar a própria vida. Perder dói, mas é um sofrimento que tem
cura.
(José Paulo da Fonseca -
psicólogo e psicoterapeuta)
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