quinta-feira, 16 de maio de 2013

Desabafo

Um dia eu desabafei com minha psicologa:

- "Eu preciso dizer que além de sofrer muito pela perda do meu filho, eu também estou muito magoada com algumas pessoas que eu amo, que se diziam minhas amigas, mas nunca chegaram perto de mim para me abraçar ou dizer que sentem muito pelo que aconteceu, será que elas não se importam? Será que nunca foram minhas amigas?".

Ela então me disse:

- "Você já parou para pensar que elas se importam tanto que não conseguem lidar com isso? Que pelo fato de não saberem como lidar com essa situação, por não saberem o que fazer ou o que falar elas não se aproximam? Existem pessoas que não sabem lidar com o sofrimento, mesmo que seja o sofrimento dos outros."

Saí do consultório pensando sobre isso. Por mais absurdo que parecesse alguém se afastar de você por não saber o que fazer ou dizer, aquilo tinha uma certa lógica. Resolvi naquele dia perdoar aquelas pessoas que eu estava magoada, resolvi dar o benefício da dúvida e acreditar que o afastamento poderia ser por conta do não saber o que falar ou como lídar. Tirei um peso a mais do meu coração, já tão sofrido.

Anos depois tive uma prova daquilo que minha terapeuta havia falado. Um amigo me disse

- "Preciso visitar uma amiga que perdeu o filho, mas não sei o que falar. Não tive coragem de me aproximar no dia do enterro e agora quero visita-la, mas não tenho coragem, não sei o que dizer, sei que ela está sofrendo tanto que não consigo me aproximar, me dói demais."

Naquele momento tive a oportunidade de ajudar com a minha triste experiência. Disse para ele:

- “Vá, dê um abraço bem apertado nela, diga que você sente muito e que está orando para que Deus dê forças para ela passar por isso. E se ela quiser falar do filho ou de qualquer outra coisa, escute atentamente, apenas ouça. Não diga que você imagina a dor dela, porque você não imagina, não diga que ela tem outro filho e que por isso ela precisa superar ou que ela terá outro filho e que ela precisa ser fote, jamais diga isso, porque isso não ajuda. Simplesmente diga que você a ama e que ela poderá contar com você sempre que quiser e até mesmo nos dias que ela não quiser, porque haverão dias que ela não vai querer sua ajuda, mas você terá que ajuda-la e possivelmente somente depois ela te agradecerá por isso.”

Ele olhou para mim e disse:

- “Como não pensei nisso antes? Vou fazer isso.”

O que parecia tão óbvio de se fazer, para ele não era. Nós, seres humanos, somos complexos, sofremos, mas não sabemos lidar com o sofrimento, seja nosso ou de alguém que amamos.
Se você é uma mulher ferida magoada pelo afastamento de um amigo, se quiser, você tem a oportunidade de perdoa-lo e pensar que ele só não soube o que fazer. E se você é um amigo que não soube o que fazer, ainda dá tempo, diga que sente muito, dê um abraço bem apertado, chore junto e escute o que essa mãe tem a dizer.
Assim, nos unimos na dor e nos tornamos pessoas melhores!
Você não está sozinho nessa vida.

(Jana Meilman)

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